Seu filho flagrou vocês na hora “H”, o que fazer?
Pesadelo que os pais querem evitar a todo custo, ser flagrado pelo filho fazendo sexo não pode ter seus efeitos sobre a criança nem subestimados nem superestimados.
Idealmente, a situação deve ser antecipada pelo casal, para que possa ser evitada ao máximo. “É preciso tomar cuidado não só para preservar as crianças como também para manter a privacidade dos adultos”, diz Mariana Amaral, psicopedagoga e psicóloga clínica e hospitalar pela Unifesp (Universidade Federal de São Paulo).
Trancar a porta do quarto todos os dias é uma das soluções, segundo a psicóloga Betty Monteiro, autora do livro “Criando Filhos em Tempos Difíceis” (editora Summus). Assim, já que a porta fica fechada sempre, não vai despertar curiosidade de ninguém.
“Ao fazer isso, o casal se dá o direito de parar o que estiver fazendo e atender o filho prontamente ou pedir que ele espere um pouco”, diz Mariana.
Outra estratégia válida é manter a babá eletrônica ligada para saber se a criança acordou e está saindo da cama ou chamando alguém para sair do berço. No caso de haver crianças mais crescidas na família, deixe claro para elas que, quando uma porta está fechada, sempre é preciso bater e depois esperar quem está no cômodo dar permissão ou não para entrar. Pegos no flagra. E agora? Eduardo* e Valéria* têm um filho de seis anos e foram vistos na hora H por ele. “Pensávamos que ele estivesse dormindo, a porta do nosso quarto estava entreaberta, como sempre ficava. Achei que ouviria se ele acordasse, mas nos empolgamos e esquecemos de tudo”, conta a mãe de Lucas*.
O menino entrou no cômodo e chegou bem perto da cama dos pais e só depois de um tempo –que o casal não imagina quanto foi– disse: “Oi, gente”. “Logo vesti a camiseta e perguntei: “Você está precisando de algo, filho?” e fui saindo com ele do ambiente, enquanto Valéria se recompunha”, diz Eduardo.
Lucas não falou mais nada, mas a mãe, assim que chegou ao quarto da criança, explicou: “Mamãe e papai estavam namorando”. O casal diz que, depois do episódio, passou a trancar a porta do quarto e tem conversado com o filho sobre a importância de bater antes de entrar. “Já faz mais de seis meses que isso aconteceu. Parece que ele esqueceu e segue sendo uma criança curiosa, que pergunta tudo o que quer”, conta a mãe.
Faixa etária Segundo os especialistas ouvidos pelo UOL, o tipo de reação a ser tomada pelos pais depende da idade da criança, mas independentemente da faixa etária, eles não podem jamais desqualificar o interesse dos filhos, muito menos supervalorizá-lo, caso o manifestem. Aos três anos, a criança possui ainda a cognição limitada, mas tem autonomia para andar pela casa e certa altura para alcançar a maçaneta da porta para abri-la. Então, a orientação é responder apenas se ela perguntar algo e, ainda assim, ser o mais breve possível e esperar que ela revele o que quer saber. Quando o filho expuser, os pais devem devolver a pergunta.
Por exemplo: se o filho questiona o que o casal estava fazendo, é recomendável que os adultos perguntem o que ele viu. “Ao se antecipar à pergunta, falando algo logo de cara, pode-se dar mais informações do que ele tem condição de absorver”, explica a psicóloga e psicanalista Silvia Bicudo, membro da equipe do projeto “Ninguém Cresce Sozinho”, rede de profissionais de psicologia com foco em parentalidade e primeira infância. Por volta dos cinco e seis anos, é provável que a criança questione o que está acontecendo ou por que o casal está sem roupa (o que acontece principalmente se ela não está acostumada a ver os pais nus em situações corriqueiras, como no banho). O recomendável é dar explicações sem se prolongar e fazer isso, de preferência, fora do quarto. Em geral, basta dizer que papai e mamãe estavam namorando, como os adultos fazem.
Quando os filhos atingem os sete anos, é esperado que questionem mais ou então fiquem curiosos em relação à cena. Para responder, não use vocabulário adulto. Prefira florear um pouco, até porque questões técnicas não interessam muito naquele momento. Fale que o casal estava fazendo amor, algo que adultos que se gostam fazem. E, por fim, reforce a importância de sempre bater na porta e perguntar se pode entrar no quarto.
No entanto, se o desespero bater e o casal não souber o que dizer, ficar sem graça ou algo assim, calma. “Tudo bem voltar ao assunto depois, se não conseguir falar com a criança na hora. Só não é possível ignorar”, fala Silvia. Horas depois, retome o ocorrido, pergunte se ela quer conversar. Se for o caso, principalmente com crianças mais velhas, abra o jogo, explique que não soube o que dizer no momento.
Não se assuste se a criança interpretar o que viu como sendo uma agressão do pai contra a mãe. É um comportamento comum e natural. O importante é que os adultos esclareçam que não se trata de agressão. “Independentemente da faixa etária das crianças e da reação delas, jamais seja agressivo, culpe-as por terem visto algo ou as expulse da cena”, afirma Betty. Também não cabe pedir desculpas desesperadamente para os filhos, de acordo com Silvia.
É claro que é preciso ficar de olho se a criança muda de comportamento, demonstra medos que antes não tinha, passa a querer dormir no quarto dos pais ou que um deles durma com ela. Se isso acontecer, consulte um terapeuta infantil e converse com os educadores da escola, explicando o ocorrido e pedindo que eles observem a criança. Por outro lado, caso tudo siga como antes, tranquilize-se.
* Nomes foram trocados para preservar a identidade dos entrevistados.
Fonte: UOL/Universa